segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Duplipensar

Já leram 1984? Eu comecei a leitura, mas para variar, não concluí. Mas, o que quero saber, ao fazer essa pergunta, é se sabem algo à respeito do ‘duplipensar’. George Orwell – autor de do livro 1984 - criou essa palavra para exprimir algo que, embora pareça impiedoso aos nossos olhos, e dissimulado para quem pratica, é algo que fazemos incontáveis vezes em nossa vida, na maioria, inconscientemente.

Para exemplificar melhor, eu colocarei aqui a definição de duplipensar por Orwell:

"Saber e não saber, ter consciência de completa veracidade ao exprimir mentiras cuidadosamente arquitetadas, defender simultaneamente duas opiniões opostas, sabendo-as contraditórias e ainda assim acreditando em ambas; usar a
lógica contra a lógica, repudiar a moralidade em nome da moralidade, crer na impossibilidade da Democracia e que o Partido era o guardião da Democracia; esquecer tudo quanto fosse necessário esquecer, trazê-lo à memória prontamente no momento preciso, e depois torná-lo a esquecer; e acima de tudo, aplicar o próprio processo ao processo. Essa era a sutileza derradeira: induzir conscientemente a inconsciência, e então, tornar-se inconsciente do ato de hipnose que se acabava de realizar. Até para compreender a palavra "duplipensar" era necessário usar o duplipensar."

É um tanto complexo para minha mente, mas sua essência é intuitivamente perceptível, e gostaria de dividir isso.

Muitas vezes temos que “duplipensar” devido às necessidades inerentes do dia a dia. A cada vez que chegamos ao nosso trabalho e temos que sorrir e agir como se nada tivesse acontecido, tendo na noite anterior acontecido algo do grande leque de coisas desagradáveis que podem acontecer. Ou quando temos que estudar para alguma prova, mesmo com um lado nosso dizendo que você devia pensar mais em si; ou quando temos que sorrir – ou chorar - para nossos pais para lhes afastar alguma verdade que achamos que “eles não precisam ficar sabendo”.

Enfim, a gama de ocasiões em que nos é possível utilizar o duplipensar é imensa. A todo segundo estamos duplipensando, duplipensando, duplipensando e duplipensando. Enfim, é algo que já faz parte de nós, e talvez nunca tenhamos atentado para isso.

Aplico essa atitude muitas vezes na minha vida, e sinceramente, não sei dizer se isso é bom ou ruim. Digo isso pelo simples motivo de ter o que alguns chamam de “queda de olho” para certas coisas. Explico: muitas vezes eu consigo destrinchar pessoas, saber, intuitivamente qual a conduta e o caráter de algumas. Não estou querendo dizer que sou adivinha, mas sim intuitiva. Os que me conhecem mais intimamente sabem bem do que estou falando. Mas, isso não necessariamente é algo bom. É algo complicado de lidar, e talvez por isso eu me afaste tanto das pessoas. Tenho um medo desmedido de descobrir coisas daquelas pessoas a quem me afeiçôo. É algo que as pessoas chamam de “não abrir os olhos para a realidade”. Nada irá justificar, mas não é fácil saber na maioria das vezes quem é quem.
Aquele amor louco, aquele encantamento novo... Tudo isso, eu só poderia viver caso fechasse os olhos. E é o que faço muitas vezes: em nome de viver a louca paixão, fecho os olhos e me deixo levar pelo lado “Amana sem juízo”.

A Amana de verdade sabe muito bem dos dois lados da moeda. Sabe tudo o que tem que fazer para conseguir aquilo que quer. A Amana aqui sempre teve quase tudo o que quis, aliando sorte à intuição.

E isso, como já disse, nem sempre é bom. É a verdade, mas quem disse que a ela [a verdade] é sempre agradável?

"Duplipensar é a capacidade de guardar simultaneamente na cabeça duas crenças contraditórias, e aceitá-las ambas."

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Reflexão de fim de ano

Esse momento de fim de ano é algo bastante interessante. Todos os seres humanos, querendo ou não, vêm-se obrigados a partilhar das alegrias e (re)encontros que são de praxe.
Nós todos procuramos nos reunir e comemorar os acontecimentos bons. E, como todos, procuramos fazer nossas reflexões. Coisas do tipo: “o que fiz de bom esse ano?” ou “o que preciso melhorar?”. Eu posso responder dizendo que mudei muito e que muita coisa aconteceu. Tenho 18 anos, e toda a ardência de 17 anos, passaram-se apenas em 1. Estou nascendo, e realmente quero dizer isso. Assim como um bebê aprende a andar, estou eu aprendendo andar. E querem saber? As quedas doem!

Eu poderia fazer um balanço e dizer que as coisas foram, na média, boas. Poderia. No entanto, não será isso. Eu continuo apostando que tudo será melhor no próximo ano e que eu tenho muito para aprender, fazer, corrigir e sonhar.

Li novos livros, ouvi novas músicas, conheci novas pessoas e isso engrandece minha bagagem. Minha reflexão de fim de ano pode ser essa: “percebo que existo, que faço e reajo. Percebo que sou parte de algo, que sou importante para as pessoas.”

Nesse fim de ano, desejo, sinceramente, às pessoas, o engrandecimento. Desejo a todos a plenitude do ser.

No mais, boas festas!

domingo, 7 de dezembro de 2008

A moça loira da mesa da agência bancária


As roupas simples, mas com um toque de classe e estilo; o cabelo bem tratado, mas nada de escova ou alguma forte tintura. A mesa não é das mais arrumadas, o que lhe proporciona certo ar juvenil, despojado. Aliás, não passa dos vinte e cinco anos. Seu apartamento deve ter um estilo próprio, e talvez a mesa cheia de livros e CD’s. CD’s de algumas músicas de Marisa Monte e Kid Abelha, e para complementar, algum rock anos americano dos anos oitenta.

Na mesa do trabalho, um ventilador individual embaixo da mesa me faz acreditar que ela é uma pessoa que sofre com o calor. Traz também, apoios para os pés. Ela faz academia. O seu biótipo magro, me faz pensar que ela deve ter uma geladeira cheia de mimos e doces. Ela trabalha em um banco, ganha muito dinheiro, come o que quiser e não engorda!

Era uma boa aluna. Mas nenhuma “CDF” arrogante. Era das divertidas e carinhosas. Definitivamente, não sai para beber de madrugada. Talvez uma vez ou outra. E sai para beber um vinho ou um chope, mas muito raramente. Ela prefere ficar em casa, no cantinho dela, e tem em cada objeto da decoração um reflexo de sua personalidade.

Agora vou voltar para a Baker feliz. Brincar é realmente divertido!

domingo, 12 de outubro de 2008

O tempo e as vaidades

Cedo ou tarde aquilo haveria de acontecer.
E aconteceu.
Porém mais cedo que se imaginava.
Quase que não acreditou.
Tentou negar para si mesma. Mas não havia como.
Sim. Era fato. Iria acontecer.
Olhou para os lados e não acreditou que tudo iria, num piscar de olhos, por água abaixo.
Todo aquele trabalho teria sido em vão?
Agora não havia mais o que fazer. Somente odiar uma coisa chamada tempo.
Uma nuvem negra pairava sobre sua cabeça e, quando o primeiro pingo caiu,sua única reação foi gritar bem alto um: "-P*** Q** P****!!!"

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

O Cara do Jornal

Tem certas pessoas na nossa vida, que nos chamam a atenção sem que sequer haja uma simples troca de palavras.
Assim é o Cara do jornal.
Sempre vejo o Cara do jornal no sinal quando estou indo para o trabalho. Obviamente existem pessoas que devo cruzar todo santo dia no caminho de casa pro trabalho, mas certamente essas não me chamam tanto a atenção como o Cara do jornal. Ele está sempre lá com uma cara séria, na maioria das vezes usando um boné da empresa. Ele tem uma expressão enigmática no rosto (na verdade é neutra, o que o torna indecifrável), como se estar às 9 horas da manhã no meio de uma grande avenida, com um sol muitas vezes escaldante, não fosse algo que o incomodasse.

Não sei se ele já notou meu hábito de sempre atravessar naquele sinal. Certamente olha para mim, como olha para as dezenas de pessoas que devem atravessar aquele sinal toda manhã. E com toda a certeza ele não imagina que alguma pessoa está escrevendo sobre ele. Muito menos que seja eu. Ele não iria adivinhar.

Hoje, quando o avistei de longe, pensei qual o motivo daquela seriedade toda e se ele iria sorrir. Para minha surpresa o Cara do jornal estava sorrindo maravilhado!
Na avenida onde ele sempre fica, estavam varias garotas segurando grandes bandeiras de algum candidato que eu não olhei o nome. Encostada a um poste estava uma dessas garotas, e o Cara do jornal conversava com ela, logo o sinal fechou e ele se despediu da garota. Ele estava com um sorriso tão satisfeito como quem acabou de ganhar na loteria e guarda isso somente para si.

Aquele sorriso se refletia no olhar. Momento esse que durou apenas a distancia entre o poste e sinal. Ele olhava para o chão sorrindo, e depois olhou – ainda sorrindo – para as pessoas que ali transitavam. Logo se recompôs como se uma voz divina o chamasse de volta ao trabalho Trazia a mão fechada sob o queixo como que segurasse aquela vitória para ela não escapar.

sábado, 5 de abril de 2008

Stephen, Roland e sua Ambiciosa "Torre Negra"

O que se pode passar na cabeça de um jovem de 19 anos? Vou estudar para me formar e ter a minha independência ou então eu quero é curtir o restante da minha juventude.Agora mesmo eu vou tomar todas ali com meus amigos,volto já.

Não na cabeça de Stephen King.

Aos dezenove Stephen quebrava as barreiras de padrões críticos e sociais que consideravam O Hobbit e o Senhor dos Anéis uma "literatura marginal" e "absurdamente fantasiosa" e lia avidamente as magníficas obras de Tolkien, como todo jovem leitor que se interessa por fantasia épica hoje em dia. Fato que não ocorria aos jovens do ínicio da decada de 70 que, exceto uma discriminada parcela, curtiam baladas do rock'n roll britânico e iam à bailes de escola para paquerar e , de forma escondida, fazer o que mais condenavam e criticavam nos hippies da época. Puxar um baseado.

Mas não na cabeça de Stephen King.

O jovem de 19 anos, que atendia pela alcunha de Stephen Edwin King, tinha em sua mente um desejo e uma ambição.Escrever. E escrever bem. Foi assim que ele deu início a série mais ambiciosa de sua carreira, " A Torre Negra", de sete volumes e que durou 33 anos para ser concluída, em 2003.
A Torre Negra
narra a aventura do pistoleiro Roland de Gilead em sua caçada à Torre Negra, a fonte controladora do tempo e do espaço, e única capaz de "salvar" o seu mundo - diferente do nosso e de aspecto cavaleirisco, lembrando as crônicas Arthurianas - que "seguiu adiante".
Durante o percurso, Roland passa pelas mais variadas situações que contrariam as regras do tempo e espaço, como viajar no tempo e entrar em portais dimensionais como enfrenta também monstros fantasiosos em um cenário fantástico, digno de uma aventura baseada no estilo de J.R.R. Tolkien. Além do mais, também entra no intimo do ser humano, mostrando a fundo as suas características marcantes , mostrando através de Roland e dos demais personagens, os defeitos, as qualidades e , acima de tudo, mostra o que um ser é capaz de fazer em busca de um objetivo.
É um clássico e , mais que isso, é um épico pois envolve - além de sua longa narrativa - um cenário repleto de influências, conceitos e criatividade, que só confirma e faz jus ao posto de Stephen King como um dos maiores escritores da contemporâneidade.

Para os que já leram: Fantástico, não?
Para os que ainda não leram : Será fantástico, vocês verão.


Diego.

A Torre Negra vol I - O Pistoleiro

Introdução
Sobre Ter 19 Anos
(e algumas outras coisas)


l


Os hobbits eram grandes quando eu tinha 19 anos (um número de alguma importância nas histórias que você vai ler).
Havia provavelmente meia dúzia de Merrys e Pippins marchando pelo barro da fazenda de Max Yasgur durante o Grande Festival de Mú­sica de Woodstock, o dobro disso em número de Frodos, e Gandalfs hippies sem conta. O Senhor dos Anéis, de J. R. R. Tolkien, era tremenda­mente popular naquele tempo e, embora eu nunca tenha passado por Woodstock (certo, é uma pena), acho que fui no mínimo um meio-hippie. O suficiente, sem dúvida, para ter lido a coleção e me apaixonar por ela. Os livros da Torre Negra, como a maioria dos romances fantás­ticos escritos pêlos homens e mulheres da minha geração (As Crónicas de Thomas Covenant, de Stephen Donaldson, e A Espada de Shannara, de Terry Brooks, são apenas dois dentre muitos), tiveram suas raízes nos de Tolkien.
Mas, embora eu tenha lido a coleção em 1966 e 1967, demorei a escrever. Reagi (e com um fervor algo tocante) ao ímpeto da imaginação de Tolkien — à ambição de sua história —, mas queria escrever uma história ao meu jeito e, se tivesse começado naquela época, teria escrito no dele. Isso, como a falecida Velha Raposa Nixon gostava de dizer, não seria direito. Graças ao senhor Tolkien, o século XX teve todos os duendes e magos de que precisava.
Em 1967, eu não fazia a menor ideia do tipo de história que poderia escrever, mas não importava; confiava que ia reconhecê-la quando ela cruzasse comigo na rua. Tinha 19 anos e arrogância. Sem dúvida arrogância suficiente para achar que podia cozinhar um pouco minha inspiração e minha obra-prima (como tinha certeza que haveria de ser). Acredito que aos 19 a pessoa tem o direito de ser arrogante; geralmente o tempo ainda não começou suas furtivas e infames subtrações. Ele nos leva os cabelos e n poder de explosão, como diz uma conhecida canção country, mas no Inndo leva muito mais. Eu não sabia disso em 1966 e 1967, e, se soubesse, n.io teria me importado. Podia imaginar — vagamente — ter 40 anos, mas 50? Não. Sessenta?Nunca! Sessenta estava fora de cogitação. E aos 19 c assim que deve ser. Dezenove é a idade em que você diz: Cuidado, mundo, estou fumando tnt e bebendo dinamite, por isso, se você sabe o que é bom pra você, saia do meu caminho... aí vai o Stevie.
Os 19 são uma idade egoísta, que restringe severamente as preocupações da pessoa. Eu tinha muita coisa na minha frente e era o que me importava. Tinha muita ambição e era o que me importava. Tinha uma máquina de escrever que carregava de uma porra de apartamento pra outra, sempre com alguma coisa para fumar no bolso e um sorriso na cara. Os compromissos da meia-idade estavam longe, os ultrajes da idade avançada, além do horizonte. Como o protagonista daquela música de Bob Seger, que agora eles usam para vender caminhões, eu me sentia infinitamente poderoso e infinitamente otimista; meu bolso (estava vazio, mas a cabeça estava cheia de coisas que eu queria dizer e o coração cheio das histórias que queria contar. Parece sentimentalóide agora; soava maravilhoso então. Soava muito tranquilo. Mais que tudo, eu queria penetrar nas defesas dos meus leitores, queria rompê-las, capturá-las e trocá-las, para o resto da vida, por nada mais que histó­rias. E sentia que podia fazer essas coisas. Sentia que tinha sido feito para fazer essas coisas.
Até que ponto isto parece pretensioso? Muito ou pouco? De um modo ou de outro, não peço desculpas. Eu tinha 19 anos. Não havia um único fio grisalho na minha barba. Eu tinha três calças jeans, um par de botas, a ideia de que o mundo era minha ostra, e nada do que aconteceu nos 20 anos seguintes provou que eu estava errado. Então, por volta dos 39 anos, os problemas começaram: bebida, drogas, um acidente de carro que mudou meu modo de andar (entre outras coisas). Já escrevi longamente sobre o assunto e não preciso voltar a ele aqui. Além disso, para você tanto faz, certo? O mundo acaba sempre lhe enviando a bosta de um Patrulheiro para retardar seu avanço e mostrar quem está no co­mando. Você que está lendo isto sem a menor dúvida já encontrou (ou vai encontrar) o seu; eu encontrei o meu e tenho certeza de que ele vol­tará. Ele tem o meu endereço. É um cara mesquinho, um Mau Elemen­to, o inimigo jurado da piração, da putaria, do orgulho, da ambição, da música alta e de todas as coisas dos 19 anos.
Mas ainda acho que essa é uma idade muito boa. Talvez a melhor idade. Você pode rolar no rock a noite toda, mas, quando a música cessa e a cerveja chega no fim, você consegue pensar. E sonhar sonhos grandes. O Patrulheiro mesquinho acaba mais cedo ou mais tarde po­dando você e, se você já começou pequeno, pois é, quando ele acaba, não sobra quase nada além da bainha do seu corpo. Arranje outrol, ele grita e sai marchando com o bloquinho de multa na mão. Por isso um pouco de arrogância (ou mesmo um monte) não é tão ruim, mesmo que sua mãe, é claro, tenha dito outra coisa. A minha disse. O orgulho vai embora depois da queda, Stephen, disse ela... e eu constatei — bem na idade certa, isto é, 19x2 — que você acaba mesmo caindo. Ou que é empurrado para a vala. Aos 19, podem mandar você parar no acosta­mento, sair da porra do carro, levar sua dolorida queixa (e sua bunda ainda mais dolorida) para o meio da estrada, mas não podem apreendê-lo quando você senta para pintar um quadro, escrever um poema ou contar uma história, pelo amor de Deus, e se por acaso você, que está lendo isto, é ainda muito novo, não deixe os mais velhos e suposta-mente mais vividos lhe dizerem nada diferente. Certo, você nunca es­teve em Paris. Não, você nunca correu com os touros em Pamplona. Claro, você é um moleque que três anos atrás ainda não tinha cabelo debaixo do braço... mas e daí? Se você não começa grande demais para sua calça, como vai caber dentro dela quando crescer? Deixe que ela rasgue, não importa o que os outros digam, esse é o meu ponto de vista; sente-se e fume a calça.